16 de março de 2015

Chic Drop: Patchwork


Manta feita com trabalho de peças simétricas

Ainda me lembro de, quando criança, sentar naquele banquinho de madeira e ficar ali por horas observando meu bisavô e minha tia cortando, ordenando e costurando – cuidadosamente – pedaços de seda e algodão, de tamanhos idênticos e variadas estampas. Faziam também o que aqui em Belém chamamos fuxicos  inacreditáveis de tão perfeitos –, os quais dariam origem a objetos como almofadas e tapetes (bem descolados, por sinal)Havia algo bucólico naquela cena, não sei se pela luz das velas brancas ou das lamparinas (gosto do meu bisavô); ou se pelo cheiro de comida caseira (outro grande talento da minha tia), preenchendo toda a casa em um misto de amor familiar e “alta” gastronomia baseada no saber popular.

Os “retalhos”, invariavelmente, se tornavam obras de arte utilitárias, que aqueceriam as noites da família e dos hóspedes, nas viagens que fazíamos ao interior do Estado, quando então o frio e o sereno da noite justificavam o uso das mantas que eles produziam com tão dedicado zelo. Tais memórias ressoam como lembranças pessoais, mas, também, como referências culturais nacionais e até mundiais, onde quer que a tradição/ habilidade/ paixão pelo ofício de costurar pequenos pedaços de tecido, tenham viabilizado o desenvolvimento do que hoje chamamos patchwork.

Bola de futebol decorativa feita com peças hexagonais

A palavra patchwork, conforme a etimologia define, na tradução do Inglês, significa “arte com retalhos”. E, segundo alguns historiadores, a origem da técnica remonta ao Antigo Egito, por volta do século IX A.C., chegando posteriormente ao Oriente, depois a Alemanha, e finalmente a Inglaterra, já por volta do séc. XI A.C. – onde floresceu tão vigorosamente que muitos chegam a atribuir a esse país a criação da técnicaEntretanto, esse passeio pela História ainda não traduz a riqueza semântica dos artefatos e as possibilidades, quase ilimitadas, de uso dessa arte (a qual, aliás, é semelhante ao processo antigo de confecção das bolas de futebol – atualmente substituída pela 'soldagem' feita através de ligação térmica).

Painel artístico formado por tecidos
(Pat Hedwall - USA)
(Fonte: site patchwork design)


Em couro e tecidos, naturais ou sintéticos, metais de variados tipos e até com alguns tipos de plásticos, a arte do patchwork envolve valores humanos em pleno resgate, por isso, muito atuais, como a colaboração, a coletividade e até a sustentabilidade. Uma vez que possibilita a (re)utilização de partes isoladas (novas ou não) para a obtenção de um produto novo. Desde a área do Design até a Moda  basta observar os mais recentes desfiles nacionais e internacionais para o Outono/ Inverno 2015 –, passando pelos Esportes e a Navegação, o trabalho de justaposição de peças pra formar um todo mostra enorme relevância para a história da humanidade.

O patchwork abrange também os painéis artísticos, os quais apresentam uma linguagem inteiramente nova, pois vão além da tapeçaria, fazendo uma espécie de releitura/ desconstrução/ reconstrução (nada mais contemporâneo!) em torno dela. Importante sinal do reconhecimento do setor são os eventos de caráter global, como o Patchwork Design, que acontece agora em Março, em São Paulo e no Rio de Janeiro (confira datas e horários no link, título do evento), reunindo produtores/ expositores e fornecedores; e apresentando, além da galeria com obras de diversos artistas e da feira de produtos, oficinas e palestras voltadas à difusão/ troca de conhecimentos. Para quem já conhecia e para quem nunca imaginou que uma arte tão “antiga” pudesse ser tão vicejante, vale a pena conhecer!

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