23 de junho de 2014

Os mistérios do vermelho – Parte 1

Perguntemos a Dali, clássico ou clichê?

Fascinante e misterioso, o vermelho é a primeira cor obtida durante a dispersão luminosa – fenômeno físico de fragmentação da luz branca nas sete cores principais perceptíveis à visão humana. Chamado também de escarlate ou encarnado, o modo como o percebemos na prática pode variar de acordo com a quantidade de amarelo, azul, preto ou branco que lhe seja adicionado. Desse modo, os tons de cor-de-rosa são derivações do vermelho, assim como os marrons, os roxos e os alaranjados. Historiadores afirmam que o homem das cavernas já atribuía sobrenaturalidade à cor por ser a mesma do sangue.

Existe a lenda de que Cleópatra, determinou que só ela poderia usar esmalte encarnado, durante seu reinado no antigo Egito (poderosa ela, hein!). Na Grécia dos imperadores, o escarlate "distinguia" o César e todos os seus poderes “sobre-humanos” do resto dos mortais. Por ser um matiz, assim como o roxo, muito difícil de se obter naqueles tempos, o alto custo fez com que ficasse praticamente restrito à aristocracia, a reis e rainhas, na Europa Medieval e Renascentista. Ao longo dos séculos, algumas religiões assimilaram significados remanescentes do vermelho. O resultado desse manejo tanto secular quanto religioso para os dias atuais é que, no inconsciente coletivo, o poder tem sido associado à cor vermelha das mais variadas formas (sem exortações partidárias, ok).

Mesmo visto sob opiniões negativas em algumas culturas pelo mundo – como sinal perigo, violência e até do mal –, o que se pode perceber é que não há uma ideia absoluta, mas um sentido definido de acordo com o contexto. E poderíamos nos perguntar: como seria o mundo sem o vermelho? Isso afetaria inclusive a percepção de outros tons, dele resultantes. Animais, flores, plantas, o pôr do sol, o próprio sol, e as estrelas, nenhum deles seria o mesmo sem essa cor. A vida é assim, diferente, para os daltônicos, pessoas que sofrem de uma alteração na retina, que faz com enxerguem de um modo diverso algumas das cores nas imagens "capturadas" pelos olhos.
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Peça da coleção Essence - Corporeum

Nesta temporada (e também na próxima, já podem divulgar!), o vermelho continua em alta. Para dizer bem a verdade, ele jamais saiu de moda. Ao longo dos últimos anos, – até mesmo com o lançamento de flankers em perfumaria e cosméticos nas versões red ou hot (cujas embalagens quase que invariavelmente são vermelhas) –, a tendência vem se renovando. Às vezes minimalista, às vezes em color block, ele surge límpido, em texturas que vão do fosco/ aveludado ao verniz/ lacquer, sempre valorizando o look como um todo.

Chapéus, echarpes, bolsas, cintos e sapatos em vermelho, tanto para as mulheres quanto para os homens (cada vez mais antenados), são altamente usáveis e bem mais fáceis de coordenar do que se supõe. Must have, now! Nas coleções das marcas da casa – Bobstore, Corporeum, Dudalina Feminina, Lucidez e OhBoy! –, ele vem glamouroso (ah, sim, o Aurélio já autorizou essa grafia), em shapes completos, como vestidos e macacões, ou ainda como complemento indispensável, em blusas, calças e blazersDo tomato, também chamado vermelho coral, ao twilight red ou vermelho crepúsculo (com nenhuma apologia à famosa saga), irmão gêmeo do wine red ou vinho; todos os tons estão valendo.

A moda não seria a mesma sem o vermelho: a cor da vida e das paixões! As artes, de um modo geral, seriam menos ricas de expressão. Que tal os filmes de Almodóvar ou as peças de Miguel Falabella sem essa cor? Como teriam sido os anos 80 e sucessos como “Uma Linda Mulher” sem aquele belo vestido (impecavelmente usado pela icônica Julia Roberts com luvas 7/8 brancas e um colar de rubis com diamantes)? Não conseguimos nem arriscar imaginar! Então brindemos, com champagne rosê, a Garry Marshall, Kandinsky, Dali, Valentino e tantos outros nomes que deixam ou deixaram seus incríveis registros sobre como vêem/ viram o mundo pelas lentes escarlates!