Não é fenômeno recente essa “quedinha” pelo dark, no mundo da moda. De fato, várias grifes inspiram-se, cada uma ao seu modo, nos tons noturnos para produzir novas coleções, principalmente as de inverno. Há, porém, referências que não seriam de conhecimento comum sem uma pesquisa de culturas. Diante disso, os designers vão ao encontro da matéria-prima existente nas ruas, nos "guetos ideológicos", bares e clubes underground de arte e música alternativa, para captar a essência de uma cultura produtora de códigos imagéticos e tendências que não são vistos habitualmente à luz do dia.
Essa “apropriação” é muito saudável para ambas as partes. Os mais clássicos podem ver informações novas e ter condições de escolher apreciá-las e os mais descolados podem ver seus conceitos, que antes circulavam em meios fechados, sendo compartilhados. Talvez a palavra de ordem seja essa mesmo: compartilhar. Em um mundo onde cada vez mais a produção cultural é intercambiante, o mix de perspectivas sobre o belo torna-se fundamental. Ótimo exemplo dessa migração é a saída de artistas como Amy Winehouse e Adele, de pequenos clubes de new jazz para os postos de artista revelação no Grammy e voz principal em trilha sonora de megaprodução cinematográfica.
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Bella Swan e Elena Gilbert tornaram-se referências |
Quando se olha para trás e se observa o que vestiam alguns reis e rainhas, em séculos passados, compreendemos mais claramente (sem trocadilhos) a inspiração deste estilo que jamais esteve absoluta e completamente out of use: o Gothic – seja em parceria com o Barroco, seja tingindo-lhe por inteiro com nuances escuras, gerando algum outro dress code cujo nome varia ao sabor das décadas. O Dark Romance, como tem sido chamado, nada mais é que uma reinterpretação do tema noite. Movimento que teve inegável influência da publicação de certos livros com “personagens que brilham ao sol” ou sobre "outros que precisam usar joias enfeitiçadas para não serem dizimados pelo astro-rei".
Acontece que existe a Avril Lavigne e vem também um certo mood, aparentemente natural, da geração y (ligada em tecnologia e desligada de formalismos) ajudando a construir o novo traje de festa: vestido meio punk/ meio rocker/ meio gótico/ meio romântico + allstar meio detonado. E, de repente, algumas debutantes não queriam mais usar scarpins forrados de cetim de seda. Como disse Lobão: "décadence avec élégance". Tendências opostas construindo uma harmonia possível – muito apreciada em publicações como a Interview.
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Rick Genest: mais conhecido como zombie boy |
Seguindo adiante, encontramos tipos como o ator, produtor, peformer e fashion model, Rick Genest (que muitas garotas dizem ser belo mesmo coberto de tatuagens). Um dos exemplos onde a autenticidade do estilo pessoal tornou-se marca e Marketing, abrindo-lhe as portas de um sucesso que nem ele próprio intencionava. Pessoas como Rick trazem uma sinceridade blasé às passarelas. E há mais coerência em contratá-lo para desfilar uma punk collection que chamar um baby face e pedir que assuma um “ar rebelde”. Fica tão sem expressão quanto pedir a uma ex-noviça, transformada em modelo do dia para a noite, que encarne uma fatal girl diante das lentes de um fotógrafo!
Aliás, os(as) modelos e manequins tatuados(as) são cada vez mais presentes nas passarelas e editorias. Confirmando o fato de que o fashion code tem que passar pelo que existe de real e pelo que está acontecendo na atualidade das ruas. A natureza e o mundo que conhecemos são feitos dessa dualidade entre o claro e o escuro; o deslumbrante e o insólito. Thierry Mugler que o diga! O equilíbrio está na coexistência. E a moda, conquanto seja tão discriminada por quem não a entende como expressão humana, é um belo palco para o estudo das inúmeras possibilidades criativas.